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Leminki 1

Raros são os artistas que conseguem apresentar uma produção realmente multifacetada e com um alto nível de qualidade. Leminski é um destes casos. Agrega-se a este atributo a sua personalidade simples e cativante.

Se o destino o levou de forma apressada, sua obra ainda ficará por muito tempo.

A exposição Múltiplo Leminski, em cartaz na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, tenta registrar parte desta potente produção, com destaque, é claro, para a poesia e a literatura – destaques de sua obra.

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Leminski é simples e direto e, ao mesmo tempo, tocante e profundo.

Culto, multidisciplinar, meio tropical, meio oriental zen, judoca, carateca, compositor, escritor, publicitário, ensaísta, jornalista, performer, pai… tudo isto é Leminski.

Na melhor postura Haikainiana, escreve de forma direta, lírica, explorando a potência e a riqueza da língua (ou melhor, das línguas, das diversas que dominava). Corajoso, foi até o fim defendendo a árdua batalha em defesa da poesia… em suas próprias palavras, se julgava um guerreiro, afinal “ser poeta aos 17 é fácil, aos 22 é fácil, aos 25 é fácil, agora aos 30, 40, 50 (idade que nem chegou a ter), 60, 70, é apenas para os corajosos, como Drumond e Quintana”.

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Sua prosa é complexa, culta, e fomenta um imaginário mágico. Catatau é a fábula que melhor representa isto. Alucinações de Descartes em terras tropicais, com seu cachimbo e sua luneta, representam a síntese de muitas coisas, de muitas visões de mundo, que convergem e se colorem, levando ao estágio máximo o enigma da leitura sobre o pandemônio onírico de nossas terras.

Seus Haikais são afiados. Na simplicidade estrutural do gênero* é que melhor se revela a capacidade de transformar menos em mais. É também aí que se revela o talento do poeta que extrai aquilo de mais potente de cada palavra, cada sílaba, cada letra.

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A Língua e a Filosofia (de vida) exploradas à última potência, numa reverência declarada ao seu mestre Matsuo Bashō.

Experimente ler alguns de seus Haikais sozinho, numa mesa de bar, acompanhado de uma taça de vinho (ou qualquer outra bebida que lhe apeteça) e irá perceber o tempo que demorará para se apropriar do total significado contido nestes pequenos fragmentos de texto (isto é, se conseguir apreende-lo na sua totalidade, é claro). Este tempo, invariavelmente, será grande, e diretamente proporcional à potência espiritual encerrada nestas poucas palavras.

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Muitas outras faces deste grande artista de Curitiba (“esta grande cidade localizada no interior de São Paulo”, segundo as palavras do próprio) também estão disponíveis na exposição. Música, publicidade, crítica, são áreas a serem exploradas e conhecidas.

Contudo, vamos com calma. No melhor estilo zen, numa espécie de busca ativa por iluminação, vamos processar cada coisa no seu tempo. Sua poesia já nos dará bastante trabalho… e prazer.

 

* A estrutura tradicional do Haikai japonês, consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas, contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana), refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização), apresenta tal evento como “acontecendo agora”, e não no passado.

GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.

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